Objetivo do projeto
Ampliar a agroecologia na região da Serra Gaúcha a partir de várias ações junto aos agricultores familiares e desenvolver produtos a base de fermentados vegetais no controle de fitopatógenos e insetos de importância agrícola a fim de diminuir gargalos técnicos que restringem a adoção da agroecologia.
Municipalidade(s) beneficiada(s)
Todos os municípios pertencentes ao Corede Serra (48 municípios) e Campos de Cima da Serra,
Justificativa do projeto
O sistema de produção agrícola mais utilizado na região da Serra Gaúcha e no restante do País é o convencional, com revolvimento intenso de solo e uso intensivo de agroquímicos. O uso deste sistema de produção tem como consequência local acúmulo de resíduos por agrotóxicos que percolam do solo/água, contaminando águas superficiais e os lençóis freáticos, e a erosão do solo que é a forma mais prejudicial de degradação, além de reduzir sua capacidade produtiva para as culturas, ela pode causar sérios danos ambientais, como assoreamento e poluição das fontes de água.
Uma pesquisa, que resultou de uma parceria entre a Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi publicada em 2009 na revista internacional Mutagenesis: foram selecionados para estudo agricultores que trabalhavam com agrotóxicos há cerca de 30 anos, e os resultados não foram animadores. Onde foram constatadas que, em média, 11% das células de cada agricultor apresentavam algum tipo de lesão no material genético. Além disso, quase todos tinham cerca de seis vezes mais lesões no DNA do que os indivíduos do grupo controle (que não estiveram expostos à ação de agrotóxicos). Por meio de análises sanguíneas, foram observados que 51% dos produtores rurais apresentavam valores de estresse oxidativo acima dos padrões normais, e problemas reprodutivos também foram identificados em cerca de 18% dos indivíduos testados.
É fato bastante conhecido que a pesquisa agropecuária no Brasil tem gerado grande estoque de tecnologias, e em alguns casos com baixos índices de utilização por aqueles que compõem o público alvo destas pesquisas, ou seja, os agricultores. Por isso, não é incomum encontrarmos situações de miséria no campo, em localidades próximas a grandes cidades, com boa infraestrutura de serviços e contando com modernos centros de pesquisa agropecuária. Este quadro normalmente se acentua quando se trata de agricultores familiares.
No Brasil com o lançamento do PLANAPO – Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica abre-se um horizonte muito promissor para um avanço da agroecologia. Na Serra Gaúcha a agroecologia já vem sendo praticada desde meados dos anos 80 envolvendo um conjunto de 26 associações, grupos e cooperativas congregando mais de 400 famílias.
No que diz respeito a agricultura familiar uma situação importante que tem preocupado muito o setor é a sucessão rural. Segundo dados do Governo do Estado do Rio Grande do Sul – Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, nos últimos 10 anos, 276 mil pessoas deixaram o campo no RS principalmente por perdas consecutivas de safras devido ao ataque de insetos e doenças que variam de acordo com a cultura e o clima (Censo 2010, IBGE), e em contrapartida a agricultura familiar é responsável por 70% da produção de alimentos para a população brasileira. Diante disso a busca por novos insumos eficientes, de baixo custo, aproveitando o potencial da nossa realidade para a produção de alimentos podem contribuir para a manutenção do homem no campo.
Um dos gargalos a manutenção da agricultura familiar e ou ampliação da agricultura orgânica é a falta de insumos/tecnologias adequados a realidade da agricultura da nossa região, permitidos e registrados para agricultura orgânica, especialmente para algumas culturas chave. Podemos citar o caso de doenças de hortícolas na serra gaúcha, como a trips em tomate, cebola e alface; oídios em tomate, morango e uva; ferrugens em alho, amora, etc); antracnose na uva, pêssego, sarna na maçã. Na produção ecológica de frutas de caroço particularmente, os agricultores ecologistas da região destacam como maior limitante a produção a falta de tecnologias (insumos) para o manejo da mosca das frutas. Na produção de pêssego este inseto pode ocasionar perdas de até 100% (Rupp, 2005).
Neste contexto, a proposta deste projeto justifica-se pois, é necessário ampliar o debate sobre as formas de produção de hortifrutigranjeiros com a comunidade de agricultores familiares estabelecidos na bacia de captação do Faxinal, buscando aprimorar as relações entre o ambiente e a atividade agrícola.
Cabe salientar que os produtos orgânicos tem vários benefícios sociais, econômicos e ambientais: apresentam maior quantidade de nutrientes quando comparado aos alimentos produzidos de maneira convencional, isto implica em duplo benefício a saúde dos consumidores pela não presença de resíduos químicos e melhoria nutricional, diminui a contaminação do meio ambiente e também a saúde do agricultor e do consumidor.
O projeto será desenvolvido: (1) em Unidades Experimentais Participativas na Região da Serra Gaúcha, principalmente na área da Bacia de Captação Faxinal, onde a maior parte dos agricultores praticam agricultura convencional que tem como consequência a contaminação por agroquímicos desta importante Bacia que garante águas de consumo para o município de Caxias do Sul, e (2) junto ao Instituto de Biotecnologia onde serão realizados as extrações, produção dos fermentados vegetais para controle de fungos fitopatogênicos e da mosca das frutas. Desta forma, apoiar na conservação e recomposição deste ecossistema por meio de sistemas de produção que reduzam os resíduos poluentes e a dependência de insumos externos irão contribuir para ampliar a soberania alimentar na nossa região, bem como os impactos sociais e ambientais.
As Unidades Experimentais Participativas (UEPs) estão organizadas na Bacia de Captação do Arroio Faxinal localizada no Município de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. Ela possui uma área territorial de 1.588,4 km2. Dentro desta área existem dois distritos pertencentes a Caxias do Sul, sendo estes, Vila Seca e Fazenda Souza.
As UEPS visam produção de alimentos, segurança alimentar, melhoria da qualidade das águas, capacitação e, futuramente melhor retorno econômico, formação de multiplicadores para difusão das experiências. As mesmas recebem orientação técnica do Centro Ecológico de Ipê e de agrônomos da Emater, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da Secretaria da Agricultura de Caxias do Sul.
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