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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Agroecologia e Manejo do Solo

        Atualmente, existem 3 formas principais de manejar o solo agrícola: o manejo convencional (químico), o orgânico por substituição de insumos e o agroecológico, que inclui a Agricultura Biodinâmica, Natural e Agroflorestal.

        1 - No sistema de manejo convencional, o solo é considerado somente um suporte físico para as plantas. Esse sistema foi disseminado em todos os continentes e se baseia no emprego de pacotes químicos destinados a nutrir as plantas cultivadas. A verdade, porém, é que são manejos que matam os solos, ao utilizarem as seguintes práticas:
- calagem corretiva, que provoca a rápida decomposição da matéria orgânica no solo;
- aração profunda, que areja o solo favorecendo o desenvolvimento dos organismos que decompõem a matéria orgânica. Após 4 horas da aração, uma grossa nuvem de gás carbônico paira sobre o solo;
- adubação nitrogenada, que fornece grande quantidade de nitrogênio ao solo também acelerando a decomposição acelerada da matéria orgânica. Mudam-se as proporções entre os elementos que compõem a planta, que fica desequilibrada; 
- uso de agrotóxicos (biocidas!), como em geral as adubações químicas fornecem apenas 5 dos 45 nutrientes que as plantas necessitam, elas ficam desnutridas, tornando-se suscetíveis ao ataque de insetos e microrganismos, especialmente fungos mas também bactérias e vírus. O ataque desses microrganismos sobre as plantas cultivadas é uma estratégia da natureza para eliminar espécies doentes e suscetíveis.
- herbicidas (glifosato), são utilizados para manter os solos limpos de plantas nativas, as quais são excelentes indicadoras ecológicas, pois evidenciam deficiências minerais e condições físicas adversas nos solos somo compactação, ausência de arejamento, etc.
       Assim, com a redução dos teores de matéria orgânica do solo gerados por essas práticas, a maior parte da vida microbiana não sobrevive, pois fica sem alimento. E sem a ação da matéria orgânica e dos microrganismos, o solo desagrega, compacta e endurece, favorecendo a lixiviação.

2 - Na agricultura orgânica por substituição de insumos, sua base é o uso intensivo de compostos e estercos que nem sempre têm procedência em sistemas orgânicos de produção. Além disso, sua produção é, em geral, baixa fazendo com que dependa de mercados que remunerem os produtos com um preço acrescido para que seja viável economicamente. Por essa razão, trata-se de uma produção com valores elevados e, sendo assim, se tornando não acessível a todos. Esse tipo de produção costuma apresentar as seguintes limitações e equívocos:
- continua trabalhando com solos mortos, embora aplique grandes dosagens de compostos orgânicos e estercos com base na crença de que esses materiais sempre melhoram o solo e nutrem as plantas (apenas 3% dos nutrientes que as plantas necessitam, são retirados do solo!); 
- trabalha com arações profundas, revirando o solo até uma profundidade de 45 cm. Dessa forma, traz para a superfície as camadas mortas do solo que se desagregam facilmente sob o impacto da água das chuvas ou da irrigação;
- o material orgânico é enterrado com a suposição de que as raízes se desenvolvem em sua direção em busca de nutrientes. Erro! Primeiro porque a função do composto e estercos não é a de nutrir as plantas diretamente, mas sim nutrir os microrganismos do solo. Esses organismos irão mobilizar os nutrientes minerais para deixá-los disponíveis para as plantas. Segundo, porque esses minerais deverão ser completamente decompostos pelos organismos do solo até se converterem em água, minerais e gás carbônico. Quando enterrado, os materiais orgânicos são decompostos essencialmente por organismos anaeróbicos produzindo SH2, CH4 e CO2, gases altamente tóxicos para as raízes das plantas;
- mal posicionamento da raiz, se a muda for plantada com sua raiz orientada para baixo, sua tendência será a de se desenvolver bem. Mas se a muda for mal implantada, a raiz pode se desenvolver lateralmente e não se aprofundar no solo. Isso acontece quando a raiz é muito comprida.

       3 - O Manejo Ecológico, seja ele através da Biodinâmica, Natural ou Sintropia, tenta manejar os recursos naturais respeitando a teia da vida. Sempre que os manejos agrícolas são realizados conforme as características locais do ambiente, alterando-as o mínimo possível, o potencial natural dos solos é aproveitado. Por essa razão, a agroecologia depende muito da sabedoria de cada agricultor desenvolvida a partir de suas experiências e observações locais. O manejo agroecológico dos solos se baseia em 5 pontos fundamentais:
- solos vivos e agregados;
- biodiversidade;
- proteção do solo contra o aquecimento excessivo, o impacto da chuva e o vento permanente;
- bom desenvolvimento das raízes;
- autoconfiança do agricultor. 
       Na agroecologia, o agricultor deixa de perguntar "o que faço" e passa a questionar "por que ocorre?" Ao invés de receber receitas técnicas prontas, passa a observar, pensar, experimentar. Com o tempo, ele começa a produzir melhor que a agricultura convencional e ganha autoconfiança. E é assim que ele se dá conta de que é o PRODUTOR de alimentos junto com a natureza que o Universo criou, que respeita as leis eternas e que acredita em si mesmo. 
     Baseados nestes princípios, foi criado o Primeiro Grupo de Agroecologia da Universidade de Caxias do Sul - GA UCS, visando a integração dos alunos novamente com a natureza, resgatando a memória biocultural e a multidisciplinaridade. Onde a teoria que se recebe nas aulas possa ser aplicada nas propriedades, levando os estudantes a conhecer as práticas de produção agroecológica da Serra Gaúcha. Entre os alunos de agronomia, biologia e engenharia de alimentos, contamos com o apoio de produtores locais e alguns professores da Instituição. Já estão sendo promovidos eventos pelo grupo, como o Primeiro Encontro de Agroecologia com oficinas e workshops, realizado no final ano de 2016. Também, as práticas ganham espaço na Universidade com a "Horta Pancs" e o Viveiro de Mudas Nativas, onde pesquisas estão sendo realizadas com a goiabeira-serrana (Acca selowiana) para aumentar a resistência da espécie quanto o ataque de pragas. Projetos desenvolvidos junto ao INBI - Instituto de Biotecnologia da UCS, Laboratório de Controle de Doenças em Plantas e Agricultura Orgânica, sob coordenação da Professora Doutora Valdirene Camatti Sartori. Mais informações, eventos e afins, fique de olho no blog! 


*o texto foi baseado no livro "Manejo Ecológico dos Solos" de Ana Primavesi. Ótima sugestão de leitura!


Linda semana à todos!